ISTO É BRASIL . . .
“ O GLOBO “
22-07-2012
Eleição rica em
meio à pobreza
Nos cem municípios mais carentes do país,
disputas para prefeito devem custar até R$ 97 milhões
RIO - O bairro de
Malvinas, em Araioses (MA), não tem água encanada nem esgoto, posto de saúde ou
escola. Lá, 90% das
casas são de taipa e sem energia elétrica. Em cada uma dessas moradias vivem de
5 a 15 pessoas. Na cidade, os candidatos à
prefeitura estimaram os gastos de campanha em até R$ 4,3 milhões para disputar
os votos de 31 mil eleitores. Araioses é uma das cem cidades com os piores
Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil onde, ao todo, os aspirantes
ao cargo de chefe dos Executivos locais planejam gastar R$ 97,2 milhões na
disputa.
Juntos, esses rincões de pobreza têm menos de 900 mil
cidadãos cadastrados para votar. Na maioria dos casos, dois ou três candidatos
concorrem às prefeituras. Mas, com tamanha estimativa de gastos, a projeção de
despesa foi às alturas: R$ 110,84 por eleitor, dez vezes mais que a previsão no
Rio (R$ 10,64). O valor chama atenção pois os municípios não contam com
programas de TV, normalmente o maior custo na campanha, e a maioria têm
eleitorado inferior a oito mil pessoas.
Assim como Araioses, Governador Newton Bello e
Presidente Juscelino, também no Maranhão, integram a lista de cidades pobres
que podem ter campanhas ricas. Os três municípios já tiveram até papel de
destaque no comércio estadual, mas hoje são lugares carentes de tudo. A
impressão que se tem é que lá o tempo parou.
— É uma cidadezinha pequena e atrasada — resume a
aposentada Joana Silva, ao descrever Araioses, sexto pior IDH do país.
De acordo com o Censo 2010, em Araioses 32% da população
vivem mensalmente com uma renda per capita de até R$ 70, e quase metade dos
domicílios não contam com abastecimento de água. Sem bons indicadores, o município orgulha-se da boa produção de caranguejos.
A apenas quatro horas de São Luís, Governador Newton Bello
parece estar mais distante do que os 298 quilômetros que as separam. A cidade,
com o 11º pior IDH do país, homenageia um ex-governador com fama de progressista, embora o
município tenha estagnado nos tempos de Raimundo “Chapéu de Couro”, que dava
nome à cidade até 1994. Ruas sem asfalto,
casas de taipa e teto de palha ajudam a dar um ar de zona rural de tempos
antigos. Lá, os candidatos a prefeito estimaram gastar R$ 3,6 milhões. Uma
quantia considerável se for levada em conta o universo de eleitores
cadastrados: 7.837. Se todos desembolsarem o que planejam, serão R$ 459,35 por
eleitor.
— É muito dinheiro! — espantou-se José Rodrigues, de
71 anos. — Aqui é pobre, pobre mesmo. Dinheiro é mais difícil do que outra
coisa. Não tem emprego, não tem nada.
Em Governador Newton Bello, quatro a cada dez moradores
acima dos 15 anos são analfabetos. E em bairros paupérrimos, como São José, a situação não
mudou em quatro anos, com ruas de terra e casas sem esgoto.
Em Presidente Juscelino, o 28º pior IDH do Brasil, emprego
só na prefeitura. Sem isso, os juscelinenses penam em bairros paupérrimos, onde
a rede de água só cobre 41% dos domicílios. Ainda assim, os candidatos à
prefeitura estimaram despesas de até R$ 368,64 por eleitor. Por lá, são 8,8 mil
os cadastrados para votar, e as estimativas de arrecadação dos aspirantes ao
Executivo local somam R$ 3,25 milhões. Valor considerável numa cidade em que o
PIB de 2009 — a última medição oficial — foi de R$ 38,4 milhões.
Na cidade de Traipu, a 188 quilômetros de Maceió, os
três candidatos a prefeito prometem gastar juntos R$ 2,4 milhões, valor
considerável para uma cidade de 15 mil eleitores. Apesar de estar à beira do rio São Francisco, a cidade foi
arrasada pela seca, sem contar os casos de corrupção. Em cinco anos, segundo a
Polícia Federal, foram desviados R$ 15 milhões dos cofres da cidade. Em Traipu, sete a cada dez pessoas não
sabem ler e escrever. Quando as televisões
não pegam por falta de sinal, os traipuenses se apinham para assistir a um
festival de decisões judiciais que fez a pequena cidade perder três prefeitos
em menos de um ano. Eleito em 2008, Marcos Santos (PTB) foi afastado e preso
cinco vezes por diferentes operações da PF.
— É loucura. Parece que vivemos em uma cidade
cenográfica da Globo. Nenhum autor de novela teve tanta imaginação para
escrever sobre uma cidade como Traipu — diz um morador da 4ª cidade de pior IDH
no país, sem querer se identificar, devido ao clima na cidade.
Na cidade de Uruçuí, no sul Piauí, a previsão dos quatro
candidatos à prefeitura é gastar quase R$ 6 milhões em busca do voto de 15 mil
eleitores. Na cidade, apenas 48,9% das ruas têm pavimentação e metade da
população acima de 10 anos vive com R$ 100 por mês. O prefeito de Uruçuí,
Valdir Soares da Costa (PT), planeja gastar R$ 1,5 milhão, o mesmo valor
previsto para a campanha de Firmino Filho (PSDB) à prefeitura de Teresina, onde
há propaganda de TV. ... ∕∕∕...
NOTA : COMO É ÓBVIO, EM " CIDADES " TÃO POBRES E COM RENDIMENTOS PER CAPITA TÃO BAIXOS, O " INVESTIMENTO " NUM CARGO ELECTIVO, JUSTIFICA-SE PLENAMENTE, SE ATENDERMOS ÀS VERBAS DESVIADAS POR QUEM SUPOSTAMENTE AS DEVERIA ADMINISTRAR AO SERVIÇO DAS POPULAÇÕES.
O QUE NÃO DEIXA DE SER SINTOMÁTICO, É QUE OS PROBLEMAS DE CORRUPÇÃO SÃO SEMPRE OS MESMOS EM QUALQUER CIDADE DO BRASIL !
A ORDEM DE GRANDEZA DOS MONTANTES ROUBADOS, ESSA, É QUE É BEM DIFERENTE ! . . .
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