E, AINDA A PROCISSÃO VAI NO ADRO . . .
ISTO É
23-02-2013O conclave já começou
Diante de uma igreja desfigurada por denúncias de uma rede homossexual e de corrupção no Vaticano, e prevendo uma das eleições mais complicadas da história, cardeais se reúnem para costurar alianças
Débora Crivellaro
Procura-se um exímio gerenciador de crises, dotado de
inquestionável erudição, com coragem para implementar reformas, visão global,
capacidade de comunicação, carisma, e uma profundidade espiritual irradiantes.
Essa tem sido a obsessão dos príncipes do Vaticano, como são conhecidos os
cardeais católicos, que desde a renúncia de Bento XVI têm a bíblica missão de
escolher quem ocupará o trono de Pedro neste período turbulento da milenar
instituição. E a situação só se agrava com o passar dos dias. Na quinta-feira
21, detalhes sobre o dossiê Vatileaks, que o papa decidiu apresentar para os
cardeais eleitores antes de deixar o cargo oficialmente, mostraram uma rede de
prostituição homossexual e um poderoso esquema de corrupção e desvio de
dinheiro dentro da Santa Sé. Pressionados pela sucessão dos acontecimentos que
destroçam a imagem dos católicos, os religiosos se reúnem em encontros privados
para tentar influenciar o voto ou, simplesmente, discutir, quem, dentre os 117
do Colégio de Cardeais, apresenta as características necessárias para ser o
266º papa da história. Por mais que invoquem o Espírito Santo neste momento, e
digam que ele é o responsável pela escolha do líder dos cristãos no mundo, os
cardeais sabem: será necessário muita política e diplomacia para se chegar a um
nome que consiga reconstruir as almas divididas da Igreja.
Para evitar um conclave muito longo, mais um desgaste
para a Igreja Católica, tão açodada por escândalos nos últimos anos e nos
holofotes da humanidade desde que Bento XVI desocupou a vaga de Pedro como se
ela fosse um assento no parlamento, desmistificando, assim, seu posto, os
cardeais já vivem a atmosfera do conclave. O grande problema é que há uma luta
fratricida na Cúria Romana, que a renúncia papal só fez acirrar. Grupos rivais,
principalmente entre os 28 poderosos cardeais italianos, tentam emplacar seus
nomes, numa campanha eleitoral que permite, inclusive, a desmoralização velada,
discreta, e nada cristã, dos oponentes. E para conferir ainda mais
dramaticidade ao intrincado quadro da sucessão papal atual, está a figura de
Joseph Ratzinger, cuja morte institucional após o dia 28 de fevereiro tem sido
muito questionada – afinal, o religioso alemão estará a poucos quilômetros do
Vaticano quando os cardeais estiverem escolhendo seu substituto. Cada palavra
que Bento XVI tem proferido desde que renunciou, e pelos próximos dias, tem
sido e será interpretada como uma mensagem para o conclave. Como no Angelus de
domingo 17, quando falou sobre aqueles que “instrumentalizam Deus para seus
próprios fins, dando mais importância ao sucesso...”
Discretos, os príncipes do Vaticano se encontravam em
apartamentos particulares e pequenos restaurantes de Roma para eletrizantes
conchavos. A partir da segunda-feira 18, as conversas veladas passaram a ser
intercaladas pelos exercícios espirituais anuais da Quaresma, realizados na
capela Redemptoris Mater, no Palácio Apostólico, com a liderança do cardeal
papável Gianfranco Ravasi e a presença de um concentrado e aparentemente
relaxado Bento XVI . A expectativa é que praticamente todos os 117 cardeais
eleitores estejam em Roma no dia 28 de fevereiro, na despedida do pontífice
alemão. Mais uma justificativa para a mudança de regras para a antecipação do
conclave, aventada oficialmente pelo porta-voz da Santa Sé Federico Lombardi
(leia na pag. 79).
A pressa de Ratzinger é grande porque a crise só se
aprofunda no reino da Santa Sé, com intrigas dignas das cortes renascentistas.
Na quinta-feira 21, o jornal “La Repubblica” publicou mais detalhes acerca do
relatório secreto entregue por três cardeais de confiança de Bento XVI – o
espanhol Julián Herranz, o italiano Salvatore De Giorgi e o eslovaco Jozef
Tomko – no dia 17 de dezembro de 2012 sobre o escândalo de vazamento de
documentos oficiais do Vaticano, conhecido como Vatileaks, que teria sido
determinante para a decisão da renúncia. O periódico desfia detalhes do dossiê
de 300 páginas, divididos em dois volumes encadernados em couro vermelho, que
descreve uma teia de corrupção, sexo e tráfico de influências por entre as
colunas da Santa Sé. Seu conteúdo abateu o religioso alemão de tal forma – foi
a primeira vez que a palavra homossexualidade foi pronunciada dentro dos
aposentos pontifícios – que ele teria dito: “Este documento será entregue ao
próximo papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar
o trabalho que o espera.”
O dossiê revelou uma
rede de prostituição de jovens seminaristas, descoberta em 2010. No centro, o
presidente do Conselho Nacional Italiano de Obras Públicas, Angelo Balducci,
que teve o telefone grampeado por suspeita de corrupção. Foi descoberta uma
conexão entre ele e o nigeriano Thiomas Eheim, membro do coro da Basílica de
São Pedro, que seria o agenciador de encontros que aconteciam numa sauna, num
centro estético, numa residência nos arredores de Roma e até dentro do
Vaticano. Numa das ligações interceptadas, o nigeriano disse a Balducci: “Só
digo que ele tem dois metros de altura, pesa 97 quilos, tem 33 anos e é
completamente ativo.” Parte dos encontros homossexuais também se dava numa
residência universitária na capital italiana onde vivia Marco Simeon, 33 anos,
diretor da TV Rai Vaticano. Na semana da renúncia do papa, o jornal italiano
“La Stampa” já havia falado sobre Simeon, mas como um exemplo do ajuste de
contas que teria sido deflagrado na Cúria a partir da demissão papal. O diretor
da RAI seria protegido de Bertone e considerado intocável durante a atual
administração, mas foi demitido dias após o anúncio de Bento XVI. Resta saber
se por causa da rede gay ou pelo enfraquecimento de Bertone. O relatório
denuncia a existência, ainda, de um “lobby gay”, uma “rede transversal unida
pela orientação sexual dentro do Vaticano”, e religiosos homossexuais
chantageados por causa da vida dupla. No documento, também é apresentado um
grupo especializado em montar e desmontar carreiras na Cúria e um terceiro,
cujo objetivo era usar grandes somas de dinheiro do Banco do Vaticano para seus
próprios interesses. O dossiê deve ser determinante para a eleição do próximo papa,
uma vez que os eleitores terão acesso a ele.
Diante de uma Cúria esfacelada, e um papa clamando por
mudança e renovação, o lobby dos italianos, incontestavelmente os mais
poderosos, em número (são 28 no Colégio de Cardeais) e influência territorial,
pode perder força, segundo vaticanistas, justamente por eles simbolizarem o
status quo. Eles são divididos em facções muito bem delimitadas, que não se
unem por ideologia ou visões afins da Igreja, mas por relações pessoais e redes
de clientelismo, segundo o escritor e vaticanista John Allen Jr., da National
Catholic Reporter. Há o grupo do secretário de Estado Tarcisio Bertone, que
apoia Gianfranco Ravasi, 70 anos, prefeito do Conselho Pontifício para a
Cultura, um dos mais fortes candidatos – não esquecendo do ditado mais falado
no momento: “Quem entra papa no conclave, sai cardeal.” Há os círculos em torno
de dois inimigos de Bertone, os também poderosos Angelo Sodano, decano dos
cardeais, e Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana. Além
daqueles que seguem o antecessor de Bagnasco, o conservador Camillo Ruini. O
favorito de Bento XVI é considerado um míni-Ratzinger, com um toque mais
popular: Angelo Scola, o influente arcebispo de Milão, que tem estado em
evidência demais numa campanha em que muita publicidade pode significar o beijo
da morte.
A atmosfera pré-conclave tem lembrado muito a segunda
eleição de 1978, após a inesperada morte de João Paulo I, um mês depois de
tomar posse, afirma o vaticanista italiano Giorgio Bernardelli. Na época,
depois de várias rodadas de votação, os cardeais continuavam num impasse, pois
vários eram contrários à nomeação do arcebispo de Gênova, Giuseppe Siri, como
papa. Foi essa conjuntura de divisão e ansiedade que fez florescer e consolidar
o desconhecido Karol Wojtyla. Isso não necessariamente fortalece a tese de um
papa da América Latina ou da África, mas de um líder com coragem para fazer as
mudanças necessárias e expurgar o rosário de pecados da Santa Madre.
NOTA : POR UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA, OU A IGREJA ALTERA A SUA POSIÇÃO EM RELAÇÃO AO HOMOSEXUALISMO E AO CELIBATO DOS PADRES, OU TERÁ DE EXPURGAR DO SEU SEIO, TODOS OS HOMOSEXUAIS, PEDÓFILOS E OUTROS QUE ATENTEM CONTRA A CASTIDADE !
CONVIVER ASSIM, NA VERDADE, CONFUNDE TODA A GENTE !
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